Sou brasileira, mineira, belo-horizontina e amo minha terra!

Sou jornalista, escritora, cantora, atriz, poeta, artesã, filha, mãe, mulher.

Acredito na capacidade do ser humano em ser feliz: hoje. Acredito em Deus e no amor. Acredito no sonho, na ação e no sucesso.

Acredito em Maria e Madalena.

Acredito na luz do Espírito Santo, na esperança e na perseverança.

Acredito no indivíduo e sua capacidade de se aperfeiçoar

Acredito na arte e na transmutação, na alma e no coração, na paz e no perdão.

Acredito no condor, no beija-flor e no arco-iris...na força do fogo, do sol, da lua e dos ventos, da água e da terra, dos lobos, das águias...e muito mais!

Acredito na luz do sagrado feminino, na teia abençoada dos círculos de mulheres, das que foram às que virão. Na inspiração do encontro que cria, cura, fia e confia.

O FEMININO EM MIM surge para partilhar esse meu olhar feminino que ACREDITA!

Grata pela sua presença especial.

Márcia Francisco

sexta-feira, 29 de março de 2013

CALVÁRIOS DA PAIXÃO

Nesta madrugada, que se faz início da sexta-feira da Paixão, despertei do sono para refletir sobre as vias do Calvário.
E, numa súbita reverência,  duas mulheres saltaram-me aos olhos e me coloquei a reverenciar e refletir então, não a indiscutível  significância da Paixão de Cristo, mas, o Calvário de duas Marias: Maria, mãe de Jesus e Maria Madalena.
Imaginar a dor de uma mulher, designada pela espiritualidade divina para ser a mãe do Salvador do mundo, diante das desumanas ações que geraram a Via Crucis, a dor de ver seu filho encaminhar-se para a morte, já morrendo aos poucos, a certeza de que esta profecia seria cumprida, a doação de compreender que aquele propósito se servia, diante de Deus, na visão nazarena, não ao ato em si e sua justificativa pela acusação, mas, a libertação de gerações que se estenderiam a mais de 2000 anos, seria quase impossível aos olhos de uma jovem mãe, que teria que abandonar seu filho após 33 anos de convívio já compartilhado com a vida ordinária. Tão cedo, tão cruel. Maria se entrega ao seu próprio Calvário e missão, aquela que a faria tornar-se Mãe com contrato irrevogável e cláusulas incondicionais, da humanidade inteira. A mãe de filhos e filhas e de milhares e milhares de mães que sofreriam em seqüência, a seu tempo, em sua condição contemporânea seus próprios calvários pessoais. Estas mães que, por razões diversas, perderiam e perdem até hoje, noites de sono em orações ou desespero pelos filhos que estão, se foram ou vão partindo aos poucos, por razões diversas. A Grande Mãe arrastou seu manto junto ao filho, em sofrimento indescritível. A Senhora das Dores que tomaria as dores do mundo, ouviu do próprio filho a mensagem divina de que aquilo deveria ser vivido, por algo maior que tudo e todos os envolvidos pudessem compreender. A visão de que a própria vida é milagre e a existência transcende compreensão terrena e precisa ser vivida na íntegra dignidade da entrega incondicional é, então, cravada na figura de Maria, mãe de Jesus que doa seu filho e ganha a humanidade inteira, como legado maternal, em contraditória dicotomia que lhe traz dor e responsabilidade.  Maria de Nazaré entrega seu filho e a si, em sua servidão maior e expande seu manto em proporções universais aos que buscarem a Santa Mãe.
Ao seu lado, outra Maria segue seu próprio Calvário. É Maria Madalena, aquela que nas escrituras conheceriam como a pecadora, com margens  inúmeras às interpretações várias das gerações futuras de acordo com seu conhecimento do pecado que o feminino pode cumprir, diante das breves citações nos evangelhos que a tradição divulgaria universalmente.  A jovem Madalena, injustiçada por histórias de poder, política de seu tempo e até documentos remanescentes que a biografassem com clara interpretação, foi aprendiz e companheira de Maria por longa data e cumpriu sua devoção, como discípula incansável de seu Mestre Jesus, que revelaria a ela sua primeira aparição após ressurgir.  Já nasceu consagrada, mas, expressou sua fé, sob o rótulo de conversão, sem questionamentos, com reverência e entrega humana à dor. Maria mãe, a mulher divina e divinizada universalmente ladeava, Maria Madalena, descrita humana, mulher  de vida vivida, convertida e marginalizada.  Este paradoxo parece aos olhos de uma compreensão espiritual, bem explicado: se por um lado contamos com a irrevogável condição da pureza imaculada da grande Mãe, nós, mulheres (e, todos os demais humanos, atenção!) passaríamos a ter como outro santo baluarte uma mulher humanizada sob os aspectos mais ordinários possíveis, não por acaso. A força do feminino humano de Madalena, poderia vir a relacionar-se diretamente com o feminino presente em todos nós. 
Portanto, meu relato traz na presença das duas Marias, a possibilidade de vislumbrarmos a força do Sagrado Feminino, intrínseca nestes dois ícones históricos, na eterna dualidade que permeia a vida em nós: o divino e o profano. Profano aqui, tido como humanizado, aparentemente contrário ao imaculado, mas, que alcançam unicidade, quando nos permitimos nos referir e evocar as bênçãos da completude do ser.
Minha profunda reverência e emoção ao tentar, 2013 anos depois, imaginar a dor destas mulheres diante na Via Crucis, diante do que se tornaria Calvário próprio, além da compreensão humana, que o tempo faria transcender e eternizar.
Que, realmente, possamos eternizá-las em nossos corações, com respeito e compreensão possíveis e nos lançar, sob as bênçãos destas sacras personagens da história da humanidade, ao aprendizado e ao infinito legado de bênçãos que seus mantos, o azul e o vermelho, já estenderam sobre nós.
A figura humanizada do Cristo e sua dor por nós, soma-se ao feminino destas duas mulheres, em clara completude masculino+feminino, integração exata de equilíbrio possível e força incondicional impressas em cada um de nós.
Que venha, pois, o equilíbrio que traz a entrega, a compreensão  e a diária devoção à real missão e cada um de nós. Com amor, muito amor. Amém.
(Márcia Francisco, sexta-feira, 29 de março de 2013, 9h10)

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